terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vibrato

No escuro sei teu estado
Sei teu olhar e o que tu queres
Tudo isso pelo som do ar
E o transpirar da tua pele

No escuro sei teu momento
Sei teu desejo, sou parte dele
Tudo isso pelo bom de amar
E de unificar corpos de dois seres

Na claridade sei enxergar
Aquilo que tens de singular
Vejo tua alma, beijo tua pele
De olhos fechados pra de tudo provar

Na claridade sei revelar
As tuas minúcias ao te arrepiar
Guio teus gestos, tomo tuas mãos
Te levo ao vibrato da nossa canção

Na dormência consigo sentir
Aquilo que o fogo bem sabe infligir
Nada me escapa que venha de ti
Sou chama que estala sem consumir

Na carência sei te suprir
Tu tens uma fonte que se sente sem fim
Sou prontidão, sou servidão
Nascido e criado, destinado a paixão

Na noite, no dia, no torpor e na agonia
Sou tudo o que precisas
Teu mantimento, uma despensa viva

Será minha sina

Morrer alimento
para cumprir o destino da vida

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Carnal

Rasante
resvalo
em teu peito

Fino,
separa-nos um fio

O espaço - pouco
Teus pelos - claros
A face - leve
A noite – curta
As mãos - a ponte
Teu seio – aponta
Teu jeito – e porte

Compreendo a linguagem da tua massa
Teus abalos, os tremores da tua terra
E a firmeza do teu beijo

Sei tudo o que dizes
Até quando não dizes

E calmo,
me mantenho

Na sondagem da estrutural formatura
Na tontura da escultural curvatura
No infindável louvor da formosura
Da imagem do amor e sua lisura
que deita
e beija
As minúcias da fraca musculatura
As sacras imagens nos olhos, a iluminura
As mãos calejadas desta pobre criatura
que te quer
e te ama
E sabe mais do que te fazer mulher
E muito mais do que os atalhos da cama
Te sabe tanto no trato selvagem,
quanto no cuidado de dama
Sabe rodear-te em cortejo
E sabe beijar o teu beijo
E o coração
Sabe tocar o teu corpo
Tocar teus sentidos
E em seguida,
canção.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Inflamável

Ei,
me consuma
me desgasta
me esgota
me acaba

Ei,
me abata
me mata
me farta

Ei,
me tortura
me toma
me cala

Músculos,
tendões
e poros
salientes

Abrasando
no perigo inflamável
do encontro dos corpos

E a língua como o fósforo
em arrasto faiscante
no campo da tua pele

Incendeio

E que queime até o limite suportável da dor
E que se alastre até o limite insuportável do limite
E que só se apague no surgimento de outra labareda

Ei,
me rescalda
me acalma
me abranda

Ei,
me pacifica
me tranquiliza
me adormece

Ei,
me silencia
me abraça

e dorme comigo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Deixa assim

Queria mesmo era saber como tão fácil tu me deixa feliz.
Não sei se sou fácil pra alcançar felicidade, ou se fácil tu me alcanças e me leva pra ela.
E queria entender como num olhar teu eu já me sinto bem.
Não sei se é luz ou se é encanto o que tu lança em mim com esses teus olhos.
Nem sei se é intencional, ou se sou eu que anseio tanto enxergar toda essa magia em ti.
Queria ver o que há de espiritual no teu sorriso, que me toca a alma. E deixa mudo o meu juízo.
Ou se sou eu que já expus à nudez minh'alma para ti.
E meu juízo, resolvo adormecer para poder justificar minha loucura.

Pode ser mesmo loucura.
E posso ter me perdido faz tempo.

Só sei que não volto mais.

Não sei se é você, ou se sou eu que quero tudo isso e tenho.
E se tu me dá tudo isso, sem saber.

Não sei se sou eu.

Mas deixa assim.

sábado, 2 de julho de 2011

Falando em escrever...

Há quem escreva desejando a ponte
Desejando a fuga e o livramento
Desejando o provimento e a expurgação

Desejando o fim da represa
A imensidão de um campo aberto
A sombra, o descanso e o amansamento

Há quem escreva no anseio da comunhão com a paz
E quem dedique um tempo a escrever
Para que não reste tempo de ser só

E os que pelejam no garimpo das palavras
E os que suam no andaime da construção na folha em branco
Tudo isso para que não reste tempo de viver

E nas linhas da escrita carregam seus baldes transbordando mágoas
Correm, e no balanço do corpo, na velocidade e agitação da fuga
Deixam mágoas caídas pelo chão da folha em branco

Há quem escreva pelo desejo
E quem escreva por amor
E quem escreva por sofrer

terça-feira, 7 de junho de 2011

Naquele dia

Que alegria foi te ver
Mesmo sendo doloroso.
Ainda que tudo tenha sido mutilador.
Ainda que eu não seja mais nada pra você.
Ainda assim. Foi uma alegria te ver.
E como é bom e faz um bem o teu sorriso.
Ainda que ele não seja mais meu.
Ainda que ele nunca tenha sido meu. E nunca venha a ser.
Ainda assim. É como poder degustar tudo o que de formidável tu me deu.
Nossa! Como foi agradável te ver.
Imensurável sensação de retorno a tudo o que de ideal fiz pra nós.
Mesmo sendo enganoso.
Ainda que tudo tenha sido nada pra ti.
Ainda assim. Eu tive tudo nos minutos que te vi.
Senti tanto.
Frenéticos impulsos de alegria.
Torturantes ardores de desejo.
Massacrantes golpes e açoites por não ter mais história contigo.
E mesmo sendo isso uma grande confusão.
Ainda que entorpecido.
Ainda que perturbador tenha sido.
Ainda assim. Foi a mais pura felicidade te ver.
Sublime e inteira e completa e viva e encarnada e genuína e palpável e física
e verdeira felicidade foi te ver naquele dia.
Ah, não. Foi mais do que isso tudo.
Foi tudo.
Ainda que tudo não diga o quanto tenha sido.
Ainda que lembrar me faça penar horas antes de dormir e até nos sonhos.
Ainda que ao acordar nada mude.
Ainda assim. Foi a mais fina das delícias ter te visto aquele dia.
Gera sorriso em mim.
Gera vontade de viver.
E gera gratidão, acima de tudo.
Te ver, te contemplar é a confirmação das obras de Deus.
E mais, tu és a própria confirmação da existência d´Ele.
Pois não há criatura que louve mais ao Pai, do que tu, moça.
A tua beleza canta as obras de Deus.
Todos os desenhos e traços do teu corpo revelam a divindade.
Glória à Deus nas Alturas!
Louvo o dia em que te vi, feitura das mãos de Deus.
Fôrma única.
Ainda que te ver tenha sido mortal pra mim.
Ainda que te ver tenha sido o umbral, a bifurcação céu-inferno.
Ainda assim. Como foi maravilhoso te ver naquele dia.
Ainda assim. Espero pela próxima oportunidade.
E quero tudo isso, moça. Nem penso em novidade.

domingo, 22 de maio de 2011

E isso é viver

E quando grandes olhos dizem tanto quanto a boca
E quando a boca com um sorriso diz mais que o vocabulário inteiro
E quando um toque vai além e toca alma
E quando a alma vai além e toca outra
É quando uma porção de Deus pinga na carne
E é aí que o amor encarna-se e caminha
Se faz ambulante
Do contrário, o amor é estanque
Pois o amor se agrada em hospedar-se
E em desmaiar-se
Esmorecer-se
E descansar-se deitado na carne e na alma de alguém
Até que as almas se tornam alma
E o descanso do amor agita-se no encontro dos amores
E isso é viver

A vida só é viva se compartilhada
O vivo só vive o amor, se vive o dar-se.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dança

Há uma coisa no abraço
E é a coisa mais estranha
É coisa que vai além da pele
Coisa de quem se ama

Há um ponto no encontro
Que os pontos do corpo
Apontam os poros da pele
A ponto de querer a posse

Há tanta mocidade nela
E tantas moças mais que ela
Tantos moços à espera dela

Mas nada faz mais moço o meu viço
Do que a vivacidade que tem o meu vício nela

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A carta que não foi

Um sopro vívido do Deus que cuida dos seus, bastará. Para que a ressurreição dos meus sonhos e as portas da felicidade se abram diante de mim. E toda falta de sentido terá fim e resultará num doar-se ao amor com mais força e com o ímpeto mortal de um kamikaze. Me deixarei, largarei meu corpo, com depositada fé, no mais profundo abismo de ser, e no ser - de alguém, e de ser - de alguém. Pois não há nada mais lindo do que pertencer, do que ter um lugar, do que ter pra onde retornar, do que ter pra quem se entregar, do que ter tanto para receber por ter tanto para dar.
Um dia o sopro vem. E tudo vai se encaixar. Até minha história na tua. Até meus sonhos nos teus. Até o teu corpo no meu. E teremos e seremos lugar um do outro, um conjugado onde o Deus do sopro habitará.
Caminhar. Caminhar de mãos dadas. E as mãos, independentes, se reconhecendo e tateando as linhas de suas palmas, dizendo nesse tato, entre tantas intimidades – eu te amo. Enquanto nossos olhos se cruzam sem querer, gerando sorrisos e comentários, dos elogios mais amenos às obscenidades que só são ditas no escuro. E durante os sorrisos, bem antes da mente pensar em beijos, estaremos entre um devorar selvagem e um lento degustar de lábios inéditos e bem conhecidos um para o outro. Beijos novatos e veteranos. Beijos bêbados e sóbrios. E sem falar dos abraços. Abraços que sondam o corpo. Abraços em milimétrico estudo anatômico. Abraços como engrenagens, de encaixe pleno, de mecânica perfeita. Abraços herméticos. Quem será você nesses abraços, se seremos tão um só?
Enquanto isso tudo, haverá o medo da perda, medo do fim. E esse medo sempre estará ali, como um cão de guarda que late alertando o perigo da casa invadida. Vem morar em mim. Uma terra cheia de realizáveis promessas. Me aceita, que o sopro vem. Estou disposto a me consumir nessas delícias até o fim de mim, nessa vivência de morrer de amar e viver de amor e amar a vida, até, e além.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Batiza

Há de renascer no peito ainda um broto da pequena planta de esperança num viver e amar possível.
Há de brotar do seco terreno ainda uma fonte que faça filetes de água percorrer a ferida aberta.
Há de ser limpo e bem cuidado esse chão pra que com o tempo volte a ser fecunda essa terra.
Há de reaparecer aquilo que nutre os grãos.
Há de ser terra em que se planta, tudo o que der muito fruto, permaneça.
Há de tudo florescer ali.
Há de ser pomar, um dia.
Há de ter sombra depois de tudo crescido.
Há de ter frutos maduros sempre.
Há de ter vento soprando constantemente.
Há de ter um banco de praça, ou uma lisa rede branca.
Há de ser jardim.

E quando pronto estiver, de pronto direi:
Batiza. Esse jardim é teu.
E como teu será, não haverei de reclamar
Se de maneira simplória resolveres chamar
Este singelo lugar de - coração.

Batiza. Esse jardim é teu.

sábado, 16 de abril de 2011

oposto

É a morte e a vida
A dor e o gozo
O liso e o grosso, a aspereza na pluma
O forte, o muro, a cerca
É o seco e o encharcado
É o murro e o afago
A flor e a foice

É assim a dor e o amor que sinto
Bem querer e rancor
É o vingar-se
Morrendo de vontade de amar
É a raiva
A sede de hostilidade
E o desejo de cobrir-te de abraços
E dizer que te perdoo
E dizer-te: nunca mais
E querer o pra sempre
E te desejar toda paz
Querendo a guerra
Pra que te sangre a alma
E assim grites meu nome
E eu te receba na mais fina calma
Ou te ignore com brutalidade enorme

É doce
E é azedume
É ácido
É levemente corrosivo
Ao passo que se mostra construtivo
É perfume. É aroma
É essência. É lavanda
É o resto. É o lixo
É o podre. É a lama
É um pé de uma fruta qualquer
É a praga que mata lavoura
Empobrece. Enobrece
Vem e vai
Some. Cresce
Envelhece
Rejuvenesce

Canção que me chega grito aos ouvidos
Quero o teu fim
E o teu início
Que seja em mim
Que seja eu o fim da tua linha
E que eu seja a ponte
E o precipício

Que se apague
Que se grave
Pois é de se considerar trágico
E de pra sempre se orgulhar

sábado, 2 de abril de 2011

a Deus

Eu queria repouso.
E toda lentidão do mundo.
E pausas.
E todo adiamento.
Um tempo arrastado e de paz.
Tempo de contentamento.

Queria não me dar a sentimentos.
Queria o não ser.
Eu queria ser preguiçoso no querer.
E muito mais, queria não contender.
Com a vida.

Queria a conformidade.
Queria não mastigar pensamentos.
Queria saber querer por querer.
Queria ser gelo.
E queria distância eterna do fogo.

Queria nunca derreter.

Queria assim não ser.
Se assim pudesse escolher.

Eu queria um fim.
Uma utilidade sem dor.
E queria logo.

Queria o esquecimento.
Pois, se aguardo
Será tarde o momento
Não poderei retornar.

E as noites dos meus dias vão chegar.

Eu queria a paz.
E o som do nada.
Queria a madrugada.
E a fuga.

E não queria mais nada.

Um Corpo

Passa-se o tempo
E nós decompomos
E morremos
Por vezes aos poucos
Muito mais que lentamente

E eis que cruelmente
E muito mais
Mas muito mais que lentamente
Vem a degeneração do ser
O atrofiamento da vida
A desnutrição da alma
A inanição do espírito
A fragilização das reações
A impotência do querer
A perda da luz que existia
A distância da beleza da infância
A pouca vontade
E as imensas mentiras

E um corpo
À definhar
E entregar-se

E a infelicidade
O verme maior dos vivos
Parasitária
Se alimenta
E cresce
Cresce
Até que mortifica

segunda-feira, 28 de março de 2011

Infinitivo

Ah... vou penar
Se for preciso rigidez ao coração
Melhor abdicar
Se for esperar passos firmes das pernas vacilantes
Prefiro adiar
Se essa melodia depender do meu tino
Melhor desafinar
E se de calma for preciso
Me ponho a desesperar
E se a espera for tão longa
Mais fácil adiantar
Mas se o muro for tão alto
Desisto de pular
E se a fuga for à noite
Espera madrugar
E se não houver luz no fim do túnel
Melhor não arriscar
E se ela não quiser vir
Prefiro não pensar
E se eu me perder enfim
Por ela valerá

Ah... vou pensar
Se ser poeta é minha sina
Melhor me castigar
Se os que leio sofrem nessas rimas
Prefiro me apartar
Pois já no sofrimento que vivo
Não sei suportar
Serei sugado pela morte
Por viver a buscar
O intenso desfecho de felicitar
Olhando num espelho
E congratular
Minha face em gracejo
Por se contentar
Estando o peito a me confrontar
A quem de direito irei reclamar
Se coisa sem jeito
É o indivíduo gostar
Da mulher que vive a se esquivar
Quão doce ilusão é me imaginar
Estando contigo em qualquer lugar
E nada pudesse nos atrapalhar
E a fome que desse fosse de amar
E a sede que desse fosse de beijar
E o frio que desse a mão fosse esquentar
E o calor que desce fosse de queimar
A queimadura que desse a boca ia aliviar
E a flor que eu te desse fosse ali selar
Esse sonho de amar e jamais represar
E com todas minhas rimas presentear
Aquela menina com medo de amar
A doce cantiga e se apaixonar
Perder-se pelo poeta que vive a penar

Que seja da vida eu perder o ar
E a morte furtiva venha me abraçar
E a vida vivida fosse se acabar
E a que seria contigo não realizar
Todos os meus versos iam se apagar
E nada desse tempo iria ficar
E todas as memórias a se dissipar
E os anjos em lamentos por nada vingar

Que Deus me ampare quando eu for chegar
E que me abra os portões do meu novo lar
E a recompensa eu receba por lá
Dos meus sofrimentos que tive por cá
E que regozijo será contemplar
Aqueles meus versos em tinta azular
Nos murais dos servos que souberam amar
Por misericórdia que conste os meus lá
E enquanto tu vives vou te esperar
E quando chegares nesse dia sem par
O plano celeste saiba apreciar
Aquela que o Divino resolveu usar
Para este poeta poder se inspirar
E fazer esses versos e poetizar
E que caiam como chuva a abençoar
Os viventes dessa terra com medo de amar
E o cristo-poeta jamais precisar
Sofrer por mais nada e poder deitar


in omne aeuum...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Prováveis Capacidades

Eu seria capaz de cartografar o relevo do teu rosto.
Seria capaz de recriar a coloração da tua pele em qualquer superfície plana.
Seria exato na resposta quanto a tua ergonomia. Sei das tuas extensões.
Eu seria capaz de identificar a tua sombra.
Seria capaz de esculpir teu vulto.
Seria hábil ao talhar tuas mãos em mármores, pedras brutas...
Conheço-as e sei dos seus toques, sua textura.

Seria capaz de farejar teu aroma.
Seria capaz de notar ao longe o brilho da leve penugem descolorida das tuas coxas.
Seria exato na localização dos pontilhados do teu corpo.
Seria capaz de descansar mais e melhor num abraço teu que em minha própria cama.
Seria belo tê-la aqui.
E seria inesquecível poder testar tudo isso. Testar toda essa minha habilidade de você.

Provar-te provando-te.
Beijá-la testando-te.

Notando até onde teu corpo aguenta.
Notando até onde teu corpo suporta. Até quando teu corpo me suporta.
Meu peso, meu beijo, minhas intensidades, meus suspiros te inalando. Como se tivesse em mim, te armazenando.
Respirando profundamente como um homem em afogamento. Na busca do aproveitamento da atmosfera que é você.
Eu seria capaz de ir te buscar
Eu seria rápido nessa hora
E te carregaria
E no caminho já te testaria
Se suportaria
Meus exageros e minha euforia.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Refletindo Marés da Vida

(de um grande amigo...)

Quando olho a maré em seu fluxo-refluxo,
no vai-e-vem infindável rebentando-se nas rochas
e se espalhando numa informe mancha branca espumejante,
fico pensando em mim, na minha ambivalência,
na indecisão de um querer-não-querer em que me encontro
tantas vezes nesta minha travessia...

Quantas vezes eu percebo que minha própria vontade
se desmancha em fragmentos borbulhantes que se apagam toda vez que reajo e que me choco com os recifes da vida...
a única esperança reside no refluxo da maré...

Kürios Khronos

terça-feira, 8 de março de 2011

Escrevo-te

Escrevo-te atordoado pelo medo. Escrevo-te em pleno terror. Escrevo-te no pavor de um breu que me alcançou. Escrevo-te com o temor de um oprimido. Escrevo-te em garranchos. Escrevo-te perdido em confusão. Escrevo-te sem saída. Escrevo-te em pânico.

Escrevo-te com uma sede. Com uma fome. Com uma vontade. Com um querer.
Escrevo-te sem entendimento. Nas linhas. Nos versos. Nas quadrinhas. Nas rimas.
Escrevo-te aturdido. Escrevo-te vivo. Escrevo-te morto. Escrevo-te exausto.
Escrevo-te perdido.

Perdidamente sem chão. Perdidamente num querer ser entendido.
Num querer de ser atendido e suportado por algo que tu tenhas aí guardado para alguém.
Escrevo-te perdidamente afim que esse alguém seja eu.

Do contrário. Sendo outro o destinatário disso que tens aí, guardado em ti. Será o fim de tudo. E o início de tudo.
Por isso, amiga, escrevo-te assim. Escrevo-te apavorado.
Escrevo-te, por fim, esse texto angustiado
Pois
Hoje desejei, perdidamente, num momento de fraqueza, ser seu namorado.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Cria

Hoje a saudade não me escapa
Hoje tem hora marcada
A saudade terá fim
Amarrarei um laço nela
Darei golpes de fivela
Amassarei tampa de panela
Se bobear
Arrisco um chute de trivela

E lá vai ela

Quica, Saudade!
Quica!

Hoje esmago essa saudade
Hoje nenhum pingo de bondade
Nem caldo da caridade
Hoje nem escuto
Nem falo
Hoje a saudade desce pelo ralo
Vou matar sem piedade
Não pedirei nem resgate

E lá vai ela

Sangra, Saudade!
Sangra!

Sangra, que a morte é o que há de certo
Até o nascimento doutra
Até fingir-se pouca
Em minha eterna triste sorte
De ser criadouro das tuas criaturas
De sempre ver tuas nascituras
E me fazer crer que um dia há de morrer
A última cria tua


Nasce, Saudade!
Nasce!

Morre, Saudade!
Morre!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Valsa dos Cabelos

Lá onde a paz se esconde
Lá onde o sol se põe
Lá onde é minha fonte
Lá o abrigo é meu
Lá finda a saudade
Lá um mar em ondas
Lá a noite é boa
Lá me faz um bem
Lá é minha proa
De navegar você
Lá que me convenço
O quão bom é viver

Lá que enobreço
Meu pobre coração
Lá nos teus cabelos
Não bate solidão

A sorte a me abraçar
A dor vai se acabar
O noite há de findar
Nos teus cabelos

Grave


Grave. Profundamente grave o breu dos teus olhos
Dois caminhos profundamente negros
Gravemente escuros
São noites sem luz
São precipícios de profundezas sem fim
Que me convidam ao salto
Ao mergulho mortal
Ou ao eterno cair e cair

Grave. Profundamente grave a claridade do teu rosto
É como um campo limpo, liso
Imensamente convidativo
Dia de sol é o teu rosto
É um dia claro e de imensos sorrisos
É um dia que quero
Que espero
E anseio vivê-lo

Grave. Profundamente grave é a beleza do teu sorriso
Imenso, Profundo e claro
Como se não bastasse
Tudo o que de belo existe em ti
É absurdo, uma afronta
É demais
É o insuportável
Que quero
Espero
Desejo