terça-feira, 14 de agosto de 2012

O epílogo introdutório do início do fim


Finda a noite dessa nossa vida
Finda a tarde em pérolas ao chão
Finda a nossa linha e na estação
O coração que desafina
E no vibrar de um dedilhar em fuga a rima
Na fina corda o violão tão sem canção
E a emoção que tu sentias hoje à mingua
Tão minha a tua dor que esquadrinha

Vem
E posta esse teu corpo em flexão
Em contrição
Dá-me tua mão
Que é tudo em vão
Que é tudo um vão

Finda a poesia dessa nossa coisa
Finda a coisa que sem valor foi-se ao chão
Finda a linha, finda essa canção

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Da Confusão do meu silêncio


Tava aqui em silêncio
Olhando para o nada
E nada cala o meu peito
E nada emudece essa fala
Em nada estipulo conceito
E nada descansa essa alma
E nada que eu faça é direito
E nada atrai essa calma
E nada é tão forte e estreito
E nada abranda a revolta
E nada detém meu desejo
É nada se te tenho de volta

E tudo o que quero é teu beijo
E tudo o que tenho é saudade
E tudo o que penso em meu leito
É tudo o que tens de vontade
E tudo o que faço é sem jeito
E tudo o que digo é verdade
Em tudo que olho te vejo
E tudo se faz mais coragem

Tava aqui em silêncio
Olhando para o nada
E nada me faz mais inteiro
Que imaginar nossas histórias casadas.

domingo, 3 de junho de 2012

Testificado


Deus, escrevo-te não por incapacidade de com a boca dizer o que sinto,
ou por incredulidade na presença constante do teu espírito.
Sei que és presente até quando eu não quero.
Sei que me ouves até quando não digo.
Escrevo-te não por querer gerar um documento que sirva como testamento de que pedi,
e posteriormente fui atendido,
como uma nota fiscal, um recibo.
Escrevo-te não só para que minha oração rabiscada vire obra desejada.
Mas também para que ao ser lida, seja prece duplicada.
E talvez logo atendida.
Deus, escrevo-te não por exibição.
Não para pôr à prova a minha coesão.
Não para tonar pública a minha confissão,
mas escrevo-te clamando por interseção dos que me lêem,
e compaixão dos que me chamam de irmão.
Escrevo-te, meu pai, não por querer uma simples resposta,
não por querer uma resoluta posição.
Mas escrevo-te, meu Deus, muito mais por não saber o que fazer,
depois de tentativas inúteis visando conclusão.
Temo ter falhado miseravelmente na missão como cristão.
Deus, escrevo-te não por ter fé, mas por tê-la perdido.
Sendo este aqui seu último suspiro.
Escrevo-te prolixo, escapando ao objetivo,
mas não por medo do teu silêncio,
mas por temer o teu juízo.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Do Amor à Bruxa

Ê, morte saborosa é essa de amar você
Ê, espasmo muscular esse que tenho ao te ver
Ê, dor aguda, angústia que sinto
Ao ver teu vestido contra a luz
Transparecendo levemente teu íntimo
Que delícia, alva louça
Despertas meus instintos
Cão do meu espírito
Foice da minha morte
Da minha carne o espinho
Do trevo a falta de sorte
 Ê, esclerose das minhas sensações
 Ê, paralisia
Ê, demência essa que tenho
Ápice da afasia
Tuas cores, teus sabores
Muitas águas pões em meus lábios
Meu desejo transformado em temores
Ê, inferno da minha hora
Ê, penhasco no meu desespero
Bala da minha roleta russa
Do pós-parto o desapego
Teu rosto triste me faz querer-te
Teu rosto alegre me faz também
Bruxa desalmada
Ardilosa, traiçoeira
Que lança feitiços
Haverá de ter me encantado em noite de solstício
 Haverá de me entregar à condenação no Dia do Juízo

 Bruxa, maldita! Eu te amo.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Canção de nós

Quando eu te vejo desperta o desejo de te ter mais uma vez De te amar como jamais um dia amei De te deitar e te embalar nessa canção de nós De me entregar e confessar que no meu futuro não vejo razão Que sem você o que virá não passará de escuridão Que nunca mais hei de provar de nós nem na canção Que para mim, ser só assim, só faz lembrar de ti Que, cá pra nós, nunca haverá casal tão lindo assim Que a luz dos olhos teus não mais serão pra mim Que nessas ruas que espalhamos nosso amor Não há mais vida, pois, a vida desandou Que essa praça e essa calçada não verá amor Como o nosso cheio de tudo o que pra Shakespeare faltou

O amor cortês

Quando quiseres ser amada Basta um aceno, meu bem E mais nada. É prontidão O que nessa amigável alma tem. Zelo por ti, meu bem. Sou teu sentinela. E quero cuidar-te e rodear-te. Seu Serviçal. Quando quiseres o meu bem Basta um aceno, amada. E mais nada. É satisfação O que reside nessa alma pequena. Rezo por ti, meu bem. Sou este apaixonado. E quero-te pra mim e pra sempre. Seu somente. Quando me quiseres pra ti Basta um aceno, e vem. Toma o que é teu. É desejo O que no meu corpo acende. E transpiro por ti, coisa minha. E sigo teus traços beijando. Sou este esperando O dia de te amar até o fim. Seu pra sempre.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

em relatório

Consta na pior parte de mim um orgulho por nada ter, acompanhado de uma avareza do nada que tenho. Consta na pior parte de mim uma capacidade de me forçar incapaz sempre que preciso. Consta na pior parte de mim um ciúme que percorre veias, pulsa no peito, circula com o sangue e não sai, represa. Consta na pior parte de mim a vingança, a ira, o desprezo. Olhando agora, consta também, na pior parte de mim, omitir meus defeitos. Constato, por fim, que a melhor parte de mim, é você.

sábado, 31 de março de 2012

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Silêncio

Não existe poesia mais tocante que o silêncio de um coração que ama.
Se o poeta é de coração ferido,
no peito faz-se a obra mais perfeita.
Diz-se o que nunca foi dito.
E nas folhas finas de uma alma abatida,
o peito-poeta deita as letras lentamente em suas linhas.
Numa calma e perícia de quem aprendeu lidar muito mais com a morte de cada dia,
que com as ilusões da vida.
A obra mais perfeita é a obra muda.
É a obra que não se manifesta em palavras.
É a obra calada que brada e chega a alcançar os calcanhares de Deus,
que por misericórdia de um poeta, inclina os ouvidos e a recebe.
Encontra na essência da obra, em meio a mágoas, dores, temores e lágrimas,
a si mesmo.
A poesia do peito é um clamor por salvação.


Silêncio.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Não um poema. Um trecho.

Sabe?! Acredito haver pessoas que são pontes.
Ligam pessoas, coisas, circunstâncias...
Acredito ser um desses.
Talvez eu seja alguém que não seja o fim de alguém.
Talvez eu não seja o destino de alguém.
Talvez eu seja uma passagem.
Um estágio.


Pode ser que eu seja trafegável. Não seja estacionável.
Pode ser que eu seja transitório. Não seja perpétuo.
Pode ser que eu seja provisório. Não permanente.
Pode ser que eu seja um abrigo. Não uma casa.
Pode ser que eu seja um ponto. Não a estação.
Pode ser que eu seja “um”. Não “o”.
Pode ser que eu não seja. Eu esteja.
Pode ser que eu não more. Eu me hospede.
Pode ser que eu não seja uma viagem. Eu seja um passeio.
Pode ser que eu não seja um descanso. Eu seja uma pausa.
Pode ser que eu não seja uma Novela. Eu seja uma Mini-Série.
Pode ser que eu não seja um sonho. Eu seja uma lembrança.
Pode ser que eu não seja um filme. Eu seja um curta.
Pode ser que eu não seja uma música. Eu seja vinheta.
Pode ser que eu não seja um livro. Eu seja um folheto.
Pode ser que eu não seja uma foto. Eu seja um rabisco.
Pode ser que eu não seja férias. Eu seja folga.
E em nada disso há menosprezo.
Porque se sou isso, serei o melhor isso de tudo isso na vida de alguém.
Quantas vezes for preciso.
Até o fim.

Amor Fundamental e Médio.

Se é Química, a fórmula das nossas ligações covalentes e a divisão atômica de elétrons radiantes, apaixonadamente iônica, percorre fluídos dos nossos metais no momento do encontro, confesso, ficam minhas molaridades trêmulas, desejosas de somas e divisões.

E se na Biologia nos entrelaçamos em azinhos e azões, beijinhos e beijões. Nossa cadeia alimentar é à base de tua carne na minha e a minha na tua, nuas. Eis a perpetuação da nossa espécie. Num evolucionismo do amor e num criacionismo da vida soprada nas narinas de um novo homem, que sou.

Se é coisa da Língua, a sintática sintética verdade objetiva e direta, seria: Eu te Amo. E mesmo que pareça transitivo, meu período é composto por subordinação ao sentimento mais puro. E adverbial de causa porque é de verdade o que digo. E consecutiva. Amo tanto que me ponho a escrever muito.

Mas, se é coisa da Arte, meu sentimento é rupestre. Ainda é rabisco no que diz respeito ao tempo. Ainda crescerá, mas já se mostra beirando o Romantismo extremo. No calor da vontade, é ávido ao Naturalismo. No frio da distância é Abstracionista. No sonho de te ter só minha é Futurista. No encontro do beijo, é Surreal.

Se for Matemático, não sei. Nunca fui bom em exatas. É capaz de cairmos em dízimas periódicas. Não saberei mais nada, além de nossas potências nos contatos e equações de segundo grau. Matriz minha, do amor. Se não houver correspondência, o meu problema será ser um conjunto vazio e não estar contido no teu universo. Deixado de lado, tu sendo o seno e eu a tangente.

Se for Física, que nossas massas em repouso saiam do ponto A ao ponto G numa velocidade constante e que finde nossos vetores em ápices por segundo, na hora H.

Se for Sociológico, lógico, o amor será socialista dividindo prazeres em partes iguais. Ao passo que seremos propriedade privada um do outro. Um relacionamento dialético.

Se for Filosófico, meu amor será sem sofismas. E jamais será Platônico.

Mas desejo do fundo do meu coração que seja Histórico. E pra sempre.

Mas se for recreio, melhor ainda. Em 15 minutos consigo algo. Pelo menos o suficiente pra te fazer querer mais no fim dos tempos de hoje. Deus queria que saiamos cedo! Para termos mais tempo de revisar nossas matérias.

Não tiro da cabeça a tua formatura, criatura. E não vejo a hora dos estudos para o Vestibular.
Revisões e revisões. Cursinhos, reforços e aulões.
Que o fôlego não falte. Pois depois disso, na Universidade, escolherei um curso qualquer que tenha Anatomia. Aí os estudos serão com mais intensidade.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Edifícios

Edifícios
Nossas estruturas se conjugaram
Nossos vergalhões atravessaram
As colunas da alma, traspassaram
Dividimos paredes e nas áreas comuns de nós,
percorrem as mesmas visitas, mesmos amigos
Sob o mesmo teto nos abrigamos dos mesmos medos
As chuvas de verão não invadem nossos cômodos

Um encaixe perfeito, por meio de uma engenharia transcendente
Plantas gêmeas
Nossas medidas ficaram arquitetônicas
Gaudinianas, de curvas espanholas, quentes, ventiladas

Porcelana alva encontrei no chão do teu peito
A cal cobre os muros que rodeiam o jardim do teu dorso
E os baldrames que te baseiam, ancas fortes, suportam as amarrações
E recebem o peso das minhas colunas
As divisórias e reentrâncias da tua casa encaixam nas minhas
E assim, tudo em nós é harmonia
Tudo em nós é lugar bom de se viver
Lugar bom de deitar

Edifícios
Nossas pinturas misturaram
Nossos ornamentos combinaram
As nossas portas sem abriram
E que sejam bem vindos os que nos querem bem
e para nenhum faltará lugar
Sob o mesmo teto nos abrigaremos
E as chuvas de verão não invadirão nossos cômodos.