quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

recado

Há uma corda tênue que cruza o vão do pensamento
Se equilibra o meu amor por ti e qualquer vento que o balança me apavora
Por que não vejo o chão do vão e é tudo escuridão
Não sei o motivo dessa travessia, mas sei que há algo que faz o sentimento seguir em certo equilíbrio
Rumo ao outro extremo que pouco me importa saber qual é agora
Me importo em torcer pra que o amor não caia e que consiga o que quer, seja lá o que for
Por que tenho a leve impressão que o nome desse abismo coberto de escuridão é esquecimento
E esquecer do meu amor por ti é te apagar da minha história

Por que tenho a leve impressão que o nome dessa corda é minha vida.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sonho de um Sonho

Certa noite sonhei que eu era o teu amado
Sonhei que tu sonhavas comigo
Que eu era mais que teu amigo
E que tu me tinhas desejado
Era o sonho mais perfeito que eu já tinha sonhado

Na bendita noite desse sonho acalorado
Acordei desejando estar contigo
Fazer teu corpo o meu abrigo
Te dar um beijo prolongado
Era o plano mais perfeito que eu já tinha planejado

Ao amanhecer o dia desse sonho apaixonado
Despertei em sobressalto como se de um abismo tivesse despencado
Fiquei mudo apavorado
Abri meus olhos e o que vi foi teu corpo em repouso ao meu lado
Era sonho por demais fantasiado

Percebi que era um sonho dentro doutro encaixado
Sonhei que no meu sonho eu sonhava duplicado
Mas o bom que desses sonhos sempre eras tu que me mantinha animado
Sonhar que está sonhando só é bom acompanhado
Era o delírio mais perfeito que eu já tinha delirado

Ao saber-me estar em meio a um sonho dentro de um sonho
Te fiz nua em meu desejo te desposei em matrimônio
Fiz o que quis e o que pediste
Me recostei nos teus ombros
Era pressão do meu corpo marcando teus flancos

Nessa hora já nem sei de qual sonho é o relato
Só sei que o meu prazer saiu aos poros no contato
Minha boca percorrendo o teu corpo inflamado
Pudor não haveria se era sonho apaixonado
Era a confusão mais ardente que eu já houvera me queimado

Era um sonho de um sonho de um sonho ao teu lado
De um desejo que o desejo já havia imaginado
De um corpo que o meu corpo jamais havia tocado

De um dia em que um dia sonharei bem acordado.   

sábado, 26 de abril de 2014

Metrônomo

O corpo em pose. Em flexão. Em extensão. Em combustão.
Alongado. Retraído. Relaxado. Comprimido.
O corpo espaço. Campo. Lugar. Ambiente.
Meio. Regaço. Castigado. Evidente.
O corpo em lentidão. Em arrepio. Em exercício. Em prontidão.
O corpo músculo. Másculo. Místico. Mágico.
O corpo nu. Em nó. Em laço. Envolto.
O corpo em si. Um só. Ao sol. E só.
O corpo exaurido. Exausto. Marcado. Abatido.
O corpo esguio. Em repouso. Em contato. Acolhido.
O corpo em líquido. Lânguido. Límpido. Vívido.
O corpo em prosa. Roteiro. Poesia. Arpejo.


Num chuvoso dia. De frio. De fome. De morte. Desejo.
Ou num dia. De fogo. De fuga. De música. De beijo.
Ou na tarde. Santo. Em jejum. Sendo um. Tendo dois.

O corpo em dança. Movimento. Sentimento. Pra depois. 

Qualquer prosa sobre o Fracasso e um Viva

O fracasso é um cordãozinho cheio de continhas e essas continhas são os fracassinhos amarradinhos um ao lado do outro.
O fracasso é artesanal. Você faz com suas próprias mãozinhas. Um por um.
Uns fazem pulseiras. Coloridinhas. Cheias de fracassinhos. Uns intercalam, colocam uns fracassões bem grandes mesmo, centrais. Ao redor uns médios, depois pequenos, depois menores. Intercalam numa lógica e ficam até bonitos.
Outros fazem cordões de fracassos. Tremendos patuás de fracassos. Rosários de fracassos.
Tem fracassos que de tão grandes servem de medalha. Caem bem num decote.
Nunca saem de moda.

Nunca.
Viva a eterna tendência! 
Viva ao Fracasso!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A Rebelião na Cozinha

A faca, o prato e o filé
Mandaram avisar a comunidade do talher
Que na sociedade não dependem de colher
E que o garfo só garfa quando quer
O prato raso mandou até avisar
Aguenta sopa e o que mais inventar
A colher de café gritou lá do armário
Que não vê razão pra mais um inventário
A sobremesa tremeu na base
Era gelatina, taça da felicidade
Pensou pra onde foi toda aquela novidade
Era concha e espátula de toda cor e qualidade
Na era do silicone recalcaram-se os inox da tradicionalidade

Aquela cozinha era só barulho
Panelas aliaram-se às colheres no murmúrio
Batiam-se no tumulto como numa mini Argentina
As bocas do fogão gritavam a ladainha
E acenderam o fogo da revolta na alma da cozinha
Os armários abriram suas portas
Saltaram de lá pratos como ninjas
No chão se espatifaram sangrando azeite de oliva
A mesa vibrava, o saleiro chorava as lágrimas mais salgadas pela briga

Até que rapidamente dois panos de prato
Subiram nas vassouras no topo de seus cabos
Gritaram tão alto que todos calaram
Como bandeiras da paz então proclamaram
- Silêncio, cozinha! Os humanos chegaram!
Gavetas e portas então se fecharam

Pressão da panela, suava o fogão
Era suspensa a ameaça de rebelião
E como num passe de mágica voltaram aos seus postos
Era o grande momento de pratos e copos
Talheres, travessas, potes e jogos
A cozinha calou pra atenderem ao propósito
Servir de utensílio para refeição
E diante dessa poesia nos fica a lição
Apesar dos discordes cumprir a missão.


Rabisco sobre a esperança


sábado, 29 de março de 2014

Amor pra depois

Aquele quintal
vai ficar pra depois
Aqueles dois meninos
vão ficar pra depois
Aquele embalo da rede
vai ficar pra depois
No domingo de preguiça
vai ficar pra depois
Aquela ida à igreja
vai ficar pra depois
Aquela sobremesa
vai ficar pra depois
Aquele cachorro correndo
Vai ficar pra depois
Naquele mesmo quintal
que vai ficar pra depois
Aquela cerveja gelada
vai ficar pra depois
Na tarde quente
vai ficar pra depois
Aquele ciúme
vai ficar pra depois
Aquele sorriso
vai ficar pra depois
Aquele afago
vai ficar pra depois
Aquele abraço
vai ficar pra depois
Aquele aniversário
vai ficar pra depois
Aquele retrato
vai ficar pra depois
Aquele carinho
vai ficar pra depois
Aquele sentido
vai ficar pra depois
Aquela razão
vai ficar pra depois
Aquela emoção
vai ficar pra depois
Pausa a vida
Eu espero nós dois
Mas não cancela
O que destino compôs
Não anula o direito

Rasura a escrita mas não apaga a rima desse amor pra depois.