sábado, 26 de abril de 2014

Metrônomo

O corpo em pose. Em flexão. Em extensão. Em combustão.
Alongado. Retraído. Relaxado. Comprimido.
O corpo espaço. Campo. Lugar. Ambiente.
Meio. Regaço. Castigado. Evidente.
O corpo em lentidão. Em arrepio. Em exercício. Em prontidão.
O corpo músculo. Másculo. Místico. Mágico.
O corpo nu. Em nó. Em laço. Envolto.
O corpo em si. Um só. Ao sol. E só.
O corpo exaurido. Exausto. Marcado. Abatido.
O corpo esguio. Em repouso. Em contato. Acolhido.
O corpo em líquido. Lânguido. Límpido. Vívido.
O corpo em prosa. Roteiro. Poesia. Arpejo.


Num chuvoso dia. De frio. De fome. De morte. Desejo.
Ou num dia. De fogo. De fuga. De música. De beijo.
Ou na tarde. Santo. Em jejum. Sendo um. Tendo dois.

O corpo em dança. Movimento. Sentimento. Pra depois. 

Qualquer prosa sobre o Fracasso e um Viva

O fracasso é um cordãozinho cheio de continhas e essas continhas são os fracassinhos amarradinhos um ao lado do outro.
O fracasso é artesanal. Você faz com suas próprias mãozinhas. Um por um.
Uns fazem pulseiras. Coloridinhas. Cheias de fracassinhos. Uns intercalam, colocam uns fracassões bem grandes mesmo, centrais. Ao redor uns médios, depois pequenos, depois menores. Intercalam numa lógica e ficam até bonitos.
Outros fazem cordões de fracassos. Tremendos patuás de fracassos. Rosários de fracassos.
Tem fracassos que de tão grandes servem de medalha. Caem bem num decote.
Nunca saem de moda.

Nunca.
Viva a eterna tendência! 
Viva ao Fracasso!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A Rebelião na Cozinha

A faca, o prato e o filé
Mandaram avisar a comunidade do talher
Que na sociedade não dependem de colher
E que o garfo só garfa quando quer
O prato raso mandou até avisar
Aguenta sopa e o que mais inventar
A colher de café gritou lá do armário
Que não vê razão pra mais um inventário
A sobremesa tremeu na base
Era gelatina, taça da felicidade
Pensou pra onde foi toda aquela novidade
Era concha e espátula de toda cor e qualidade
Na era do silicone recalcaram-se os inox da tradicionalidade

Aquela cozinha era só barulho
Panelas aliaram-se às colheres no murmúrio
Batiam-se no tumulto como numa mini Argentina
As bocas do fogão gritavam a ladainha
E acenderam o fogo da revolta na alma da cozinha
Os armários abriram suas portas
Saltaram de lá pratos como ninjas
No chão se espatifaram sangrando azeite de oliva
A mesa vibrava, o saleiro chorava as lágrimas mais salgadas pela briga

Até que rapidamente dois panos de prato
Subiram nas vassouras no topo de seus cabos
Gritaram tão alto que todos calaram
Como bandeiras da paz então proclamaram
- Silêncio, cozinha! Os humanos chegaram!
Gavetas e portas então se fecharam

Pressão da panela, suava o fogão
Era suspensa a ameaça de rebelião
E como num passe de mágica voltaram aos seus postos
Era o grande momento de pratos e copos
Talheres, travessas, potes e jogos
A cozinha calou pra atenderem ao propósito
Servir de utensílio para refeição
E diante dessa poesia nos fica a lição
Apesar dos discordes cumprir a missão.


Rabisco sobre a esperança