segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Poema Forçado

I. O Poema Forçado

Ontem eu quis te escrever um poema
Um poema que falasse de saudade
Ou qualquer poema independente do tema
Mas um poema que dissesse a verdade

Dei mil voltas, fiz vários esquemas
Mas a tua falta se mostrou um problema
E no papel sequer saiu uma frase pequena
E me sinto um poeta fiasco, 
poeta digno de pena

Mas hoje de qualquer jeito eu tinha que te escrever um poema
Um poema que te mostrasse verdade
Nem que fosse um poema à vontade
Um poema sem norma, um poema sem lema

Abri dicionários, roubei relicários, me fiz ao contrário pra criar um poema
O destino ao final se mostrou solidário
Fiz esse poema primário que em nada lembra os passados
No bom tempo em que eu te tinha ao meu lado
E bastava te ver que fluía poema
Bastava escrever que fluía poema


II. O Espontâneo do Poema Forçado

E naquele tempo o que era poema
Senão acariciar a tua pele lisa e morena?
Controlar fluidez era o grande dilema
Domar o teu corpo gemendo em fonema
Ao som do sussurro que a orelha esquenta
E tanta lembrança que inspira e atormenta
Só faz-me pensar que a tua presença
Minha pobre e opaca poesia sustenta


E foi ao natural até aqui minhas linhas
E ao vendaval das lembranças contidas
Me veio um sopro, soprando as narinas
Tomou-me o corpo solapando a vida
Em meio ao instante, no segundo que finda
Na saída da hora, o minuto que alinha
E descompasso do peito, 

é o coração chorando poesia.

III. Força do Poema Forçado disfarçado no Espontâneo

Hoje eu quis te escrever um poema
Um poema que fizesse as pazes
Um poema que calasse a vontade
Que fizesse dormente a saudade e a doença 

IV. O Fim do Poema Forçado 

Quis e fiz
Fim.