terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um ensaio de um sambinha dela

Ela
Sorri
De mim
Pra mim
Não sei

Só sei que ela sorri
E vive bem

Ela
Que dança
Pra ela
E só dela basta
Não sei

Só sei que ela sorri
E dança bem

Ela
Que fala
Só dela
E nada de mim
Não sei

Só sei que ela sorri
E falo dela tão bem

Ela
Que viveu
Intensa
Descansa
Nem sei

Só sei que vivo
E nem sei viver tão bem

domingo, 19 de dezembro de 2010

Instante

O que será o dito momento?
Qual seria a medida do instante?
Se houver medida para ele, que me digam sem demora.
Meu tormento é ter vivido um momento que anda vivo até agora.
Meu questionamento
É saber que sentimento
Nesse instante me devora

E o que farei?
Se a vida caminha por caminhos que não sei
E meu clamor é para o entendimento
Do que foi aquilo que para trás não deixei

Deus, afaste o sofrimento
Estanque o crescimento
Disso que aquele instante mantém

Que termine a extensão
Desse já extenso momento
E que qualquer intento
Seja ao contentamento
De um intenso bem.

Que me faça o coração coberto, Deus
Que me force a qualquer outro anelo
E que eu não sofra mais nenhum instante
Como aquele instante tem me feito sofrer

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Reticências

Queria que tu me recebesse com a mesa posta
Como que disposta a um amor fraterno e papos sem fim
E que me aceitasse com um de seus olhares
E braços armados para longos abraços laçados em mim

Queria teu humor - Oh, flor ácida desse jardim
E esse teu sorriso
Queria teu abrigo
Quem sabe o juízo
Deixar-lhe mendigo
E abandoná-lo enfim

Queria à vontade
Deitar do teu lado
Chamar-lhe de amiga
Fingir uma briga
Tirar um retrato e morrer de rir

Me dê seu afago
Senta do meu lado
Sem zombar de mim
Por te querer assim

Te espero, moça
Sorriso de louça
Gênio de matar

E enquanto isso
Faço-te escritos
Pra te impressionar

Deixe que o desejo há
Deixe que o deixar está a me apaziguar...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma vidinha


Eu queria do gato apenas uma vidinha
Apenas umazinha das sete vidinhas
Sair à noite voltar de manhãzinha
Andar preguiçoso durante o dia

Olhos fechando
Miado mudo
Horas passando
Viver noturno

Eu queria do gato apenas uma vidinha
Receber da dona qualquer carícia
E só ter amizades da raça minha
E do telhado olhar a rinha

Sem sentimento
Sem cachorrices
Lamber as patas
Simular asmas

Eu queria do gato apenas uma vidinha
Apenas umazinha das sete vindinhas
Já seria aventura, já seria alguma
Diferentemente da vidinha minha.     

sábado, 20 de novembro de 2010

Viajantes


Como dois viajantes em novas terras
Singrando rios
São meus olhos admirados de ti
Descobridores de ti
Cada curva dos teus rios me convida a desbravar-te
E me lanço desejando o degredo nas terras tuas
Terras nuas, inéditas, claras
Um dia hei de morar em ti
E viver em ti
E morrer de viver em ti
Um dia hei de erigir um pórtico
Alçarei bandeira
E tu serás terra minha
Coisa minha
Língua, hino, brasão e casa minha

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vilão

Vilão
Agora eu sou teu vilão
Agora já não valho
Sou teu inferno
   Sou teu estrago
Agora já não sou alguém
Sou um estado
   Sou teu desdém
Como se nunca tivesse te amado
Me transformas-te em trapo
    Num mau-viver
Como se nunca tivesse te oferecido paz
Foste capaz
    De me maldizer
Agora estou de partida
Levando a ferida
E o sangue a correr.

sábado, 23 de outubro de 2010

O Sal


Cadê o gosto? Cadê o sal? Foi-se o sal das lágrimas. Foi-se ao som das lástimas.
Deu-se ao fio da foice
Cadê o gosto? Cadê o doce? Deu-se ao deleite  Da triste vida de enfeite
Deu-se ao dar-se. Cadê o gosto da novidade?

Abraça-me. Faça-me torpor na prova do venenoso sal da tua pele.
Na prova da tua carne. Nas provas de minha boca.
Quero noites à tua espreita  
Quero dias à tua espera
Quero ao campo das tuas carícias a fartura de uma colheita

De noite te quero alva
De dia te quero negra
De todo te quero sempre
Pra sempre te quero minha.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

À Pátria

De tanto que sinto, pouco tenho a dizer.

E mesmo com todo amor que tenho pela vida eu insista em tentar abrir um tanto, a Pandora caixa que em meu peito se enterra, certamente não conseguirei desvelar o selo deste manto.  Certamente calar será o ato deste peito em constante desencanto.

Parco em zelo, com quase nenhum querer vivaz, encruo a vida lamentando. 
Hasteio a bandeira da terra dos infelizes. Sinto-me, desta terra, um patriota depreciando sua pátria triste, por estar tão triste que da tristeza pátria desdenha ao namorar a fronteira do desprazer da vida, ansiando repatriar-se.  
Pouco tenho a dizer além da tristeza que teimo em viver. De tanto que sinto.       

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

(Érre)


Reviro textos inacabados.
Revivo momentos passados.
Revido golpes, mesmo cansado.
Retiro argueiro de olhos vazados.
Repito trechos de poemas privados.
Reparo sapatos para andar descalço.
Releio frases que interpreto errado.
Relaxo meu andar já muito largado.
Relevo amigos desinformados.
Revelo feridas que inspiram cuidados.
Resvalo em vasos há muito tempo quebrados.

Respire um tanto.

Resta relatar rumas de rimas ruins deste roto que reza ainda ser lido.
O Resto redijo amanhã.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sossego

Sossego. Te espero como quem espera no leito a cura.
Te espero como quem conta as horas para o reencontro.
Te espero como quem traça planos para o rebento.
Te espero como quem espera  o fim do mês para o soldo.
Te espero como a mãe espera o filho chegar da noite.
Te espero como quem espera a chuva passar pra ir.

Sossego. Sossega-me como no colo o pai acalenta o filho.
Como o silêncio no fim da guerra.
Como o sopro no alívio do ardor.
Como o doce corta o amargo.
Como o sono supera a fome.
Como o sonho bom que ninguém interrompe.

Sossego. Sossega-me como quando as lágrimas derramadas alcançam a alma.
Sossega-me como quando se olha um espelho d’água e vê-se o céu.
Sossega-me como o devoto sossega ao cumprir a promessa.
Sossega-me como a harpa acalmava o espírito em tempos de Velho Testamento.
Sossega-me docemente como é doce assistir o abraço de duas crianças.
Sossega-me como o sorriso dela me faz.

Ou melhor, sossego.
Faça melhor.
Traga o sorriso dela.
E nada mais.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Todas Elas

Veja! Ali! Aquelas!
São de belezas tão modestas.
São de modos acanhados. 
De pequenos risos.
Andam juntas porque sozinhas são mais frágeis.

E aquelas! Bem ao lado do morro.
Se excluem. Se isolam.
E nisso está toda a beleza.
Aquele pedaço é todo delas.

E aqui. Essas, com seus corpos celestiais
Formam linhas que fazem a imaginação delirar.
O céu.

Acolá, aquelas parecem chorar. 
Minguando.
Parecem lamentar não ser Dalva.
Dalva é linda. Toda linda.
Toda entregue. Radiante.
Beleza ofuscante.
Dalva é esplendor. 
Desejada. 
Também a quero.
Como todos querem. 
Quero dormir com ela.

Ao sul, Solene.
A cruz, o Cruzeiro.
Sou como devoto.
E de tanto olhar. E cobiçar. Faço o sinal da cruz.
Deus, que me afaste do pecado.

São tantas. 
Quero todas.
Em minhas mãos. 
Nuas.
Minhas.
Fito os olhos nelas. 
Quero-as todas.
Quero todas e cada uma.
Quero-as para te dar.
Todas elas. 
Do céu. As estrelas.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Leituras


Minhas leituras são diferentes
Não leio Vinícius, não leio Clarisse
Leio tuas passadas
Leio o desenho dos teus cabelos
O balanço do teu vestido
Leio o que no caminho tu imprimes

Leio até o entre parênteses do teu olhar
Grifo o detalhe das tuas mãos de dedos longos
Faço com cores vivas
Copio na mente pra recordar

Mais tarde sozinho
Transcrevo
E logo percebo
Que daquilo que li
Apenas um esboço ficou
E logo quero ler-te novamente

Literatura perfeita
És prosa, toda prosa
És poema, em lirismo de mulher
Em doçura de moça
És métrica perfeita

Versos apaixonados
Versa no caminho meu
Faço Ode aos carinhos seus
Quem lerá teus escritos
Tateando as linhas
Das tuas páginas vivas

Que seja Homérico
E progressivamente amável
O meu deleite em ti, minha leitura.