quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sossego

Sossego. Te espero como quem espera no leito a cura.
Te espero como quem conta as horas para o reencontro.
Te espero como quem traça planos para o rebento.
Te espero como quem espera  o fim do mês para o soldo.
Te espero como a mãe espera o filho chegar da noite.
Te espero como quem espera a chuva passar pra ir.

Sossego. Sossega-me como no colo o pai acalenta o filho.
Como o silêncio no fim da guerra.
Como o sopro no alívio do ardor.
Como o doce corta o amargo.
Como o sono supera a fome.
Como o sonho bom que ninguém interrompe.

Sossego. Sossega-me como quando as lágrimas derramadas alcançam a alma.
Sossega-me como quando se olha um espelho d’água e vê-se o céu.
Sossega-me como o devoto sossega ao cumprir a promessa.
Sossega-me como a harpa acalmava o espírito em tempos de Velho Testamento.
Sossega-me docemente como é doce assistir o abraço de duas crianças.
Sossega-me como o sorriso dela me faz.

Ou melhor, sossego.
Faça melhor.
Traga o sorriso dela.
E nada mais.

Um comentário:

  1. Belo texto, Rodrigo. Simples, agradável e calmo, como um fim de tarde. Parabéns! ;)

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